A importância da Motivação

A importância da Motivação

Para aprender alguma coisa é necessário desejo para motivar. E o desejo de aprender está estreitamente ligado à autoestima, à autoconfiança e à expectativa dos outros. Uma deficiência não justifica que a pessoa deva ter uma educação diferente do resto da população, pois, mesmo com recursos suficientes, se ela não for considerada capaz não poderá desenvolver suas capacidades, não será suficientemente motivada e não terá desejo de crescer e chegar a ser adulta.
Algumas pessoas se tornam engenheiros aeronáuticos, outras se tornam pedreiros e outras artistas, neste contexto há inúmeros fatores desde habilidade até a educação, formação e oportunidades que a vida lhe proporcionou, incluindo o desejo de ser algo. O que não temos dúvida é que existe um grande rol de oportunidades. Para as pessoas com síndrome de Down também deveria existir, porém são poucas as pessoas que têm a possibilidade de gerir sua vida e decidir o que querem ser e em que querem trabalhar.
A necessidade de normalidade é algo que precisa ser levado em conta para conseguir um desenvolvimento harmônico. Quando uma pessoa tem síndrome de Down, ou tem uma deficiência, permitem-lhe transgressões, a superprotegem e não há exigências, portanto seu desenvolvimento pessoal será incompleto e suas relações pessoais e sociais não serão enriquecidas.
É muito importante que as crianças com síndrome de Down tenham responsabilidade desde pequenas. Há uma tendência de fazer tudo por elas: colocar os sapatos, dar banho etc. E essas tarefas são feitas sem prazo de validade. Para sempre! Quando damos responsabilidades pequenas às crianças podemos continuar dando responsabilidades maiores à medida que irão crescendo. Caso contrário, eles não estarão preparados para trabalhar e se tornaram independentes. E não podemos dizer que a culpa é da deficiência.
No adolescente
A adolescência é uma época de crises de identidade e há alguns riscos. É o momento da tomada de consciência em relação à deficiência, é a hora em que se procuram os iguais para se relacionar, buscam companhia e desejam compartilhar atividades, ao mesmo tempo que se rejeitam por não se aceitarem e rejeitarem a síndrome. Esta é a hora de dar força e apoio para começar um projeto de futuro.
O adolescente com Down percebe o que seus amigos de escola e seus irmãos realizam e deseja poder fazer as mesmas coisas, mas, muitas vezes, por não ter força suficiente para se opor à superproteção dos pais, acaba ancorado na infância, desta forma corre o risco de nunca poder sair da família e das alternativas da família (instituição de dia e casa de noite) e acaba percebendo que o mundo dos adolescentes é inalcançável.
Identidade adulta
A identidade adulta está intimamente ligada ao mundo profissional, entrar no mundo do trabalho representa entrar no mundo dos adultos. Este é um processo difícil para todos, principalmente para as pessoas com síndrome de Down. Para elas, como para todos nós, o trabalho, como atividade humana, significa uma forma de cumprir as necessidades pessoais, econômicas e relacionais. Trabalhar não significa somente realizar um trabalho, e sim interiorizar uma série de características profissionais, de adultos, e reconhecer seu poder, executar suas responsabilidades e seus direitos, assim se tornar parte da sociedade.
Para entender a estreita relação entre trabalho e identidade, temos que nos fixar em coisas cotidianas: Em que trabalha? Sou encanador, médico, agricultor, advogado. “Sou”. Freud diz que nada liga mais o indivíduo à realidade como o trabalho que ele incorpora a uma parte da realidade, à comunidade humana.
Como ajudar As pessoas com Down levam a deficiência estampada no rosto. E isto favorece um tipo de olhar infantilizado e protetor por parte dos outros, o que não favorece a construção de uma identidade própria. Cada olhar resulta em um julgamento e uma qualificação que deixa pouco espaço para as surpresas, para o atrativo de conhecer um ser humano. Devemos mudar o olhar que dirigimos às pessoas com síndrome de Down e não ver somente o que eles não podem realizar.
Existem famílias que desde cedo iniciaram outro caminho, um caminho para descobrir e reforçar as potencialidades, um caminho pautado na confiança, na exigência e nas responsabilidades. Um caminho que visa um projeto de vida. Um caminho difícil, tortuoso, que exige muita energia. Porém é um caminho que viabiliza a possibilidade de crescimento, de tornar-se adulto e gozar de bem estar emocional. Alguns pais entenderam que se servir na mesa é uma coisa e outra diferente é trancar a porta com chave à noite. A primeira tarefa é mecânica, a segunda demanda responsabilidade. Há famílias que têm expectativas reais que contemplam os desejos dos filhos, suas opiniões, gostos, ideias e projetos. Desse modo, as famílias favorecem o desenvolvimento harmônico de seus filhos, que acabam alcançando a idade adulta.
No entanto, para alcançar este ponto é necessário apoios e equilíbrio. Se, de um lado, a superproteção impossibilita a construção da identidade, por outro, incorporar uma pessoa com Down em um mundo complexo e cheio de estímulos estressantes pode suscitar em diversas reações diante de uma realidade que talvez não compreenda em sua totalidade, posto que sua capacidade adaptativa é inferior. Essas reações podem tomar formas de condutas não aceitáveis ou de depressões importantes.
Por isso a prevenção em saúde mental é tão importante como a saúde física. As pessoas com síndrome de Down são mais vulneráveis que o resto da população e necessitam de mais apoio para integrar-se socialmente, para aceitarem-se a si mesmas, para terem maior confiança em suas próprias realizações, e para conseguirem maior segurança.
Para prevenir transtornos mentais em todas as idades e para conseguir o bem estar emocional, é muito importante trabalhar a identidade, ajudar a pessoa com Down desde pequena a se conhecer, a aceitar-se, a descobrir a síndrome e também suas múltiplas capacidades. Educar é transmitir normas, mas também é deixar crescer, confiar, exigir e valorizar as realizações.
A pessoa com síndrome de Down necessita de confiança e sentir-se capaz para crescer e para configurar uma autoestima mais sólida possível. A confiança implica um risco (se eu o deixo atravessar a rua, ele pode ser atropelado por um carro), mas lembremos que o risco bem assumido se traduz em autonomia.
Por isso, devemos fazer tudo que está em nossas mãos para que as pessoas com deficiência construam uma identidade não baseada na deficiência, mas sim em suas possibilidades e atitudes, e tenham um projeto de vida. Nosso desafio consiste em reconhecer e respeitar o tempo de crescimento e em saber aceitar uma condição de adulto no lugar de uma eterna criança. Se estamos convencidos de que a pessoa com deficiência tem possibilidade de crescer e de formar parte ativa da sociedade, eles acabam respondendo a essa expectativa.

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